sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Sobre todo o ar que me falta nos pulmões.

Há anos não encontro inspiração. Há anos algo me prende a garganta e me sufoca. Há anos me falta ar para conseguir dispersar os pensamentos enevoados em forma de palavras. 

O que outrora sempre me fora essencial - a escrita; o falar -, nos dias atuais me falta familiaridade. Há muito não me sentia capaz de coletar todos esses versos soltos que me assombram a mente a fim de jogá-los sobre a folha em branco na esperança de compor um texto. Há muito eu venho culpando a inspiração. Besteira! É sabido que o que sempre me impulsionou a escrita foram os sentimentos -  frequentemente,  os de apatia.

Agora que penso sobre, em 2015 (meu último post) foi o ano em que me diagnosticaram com depressão. E que diagnóstico! A depressão é impiedosa; uma grande lutadora! Junto a terapia, o único modo de combatê-la acabou por serem os antidepressivos. Um brinde ao Citalopram, a propósito. De fato, cumpre o seu papel de forma tão eficiente que junto com as intensas crises de depressão, levou também os meus sentimentos mais obscuros - os que me permitiam escrever. Agora - hoje, em 26 de outubro de 2018 - percebo com clareza todo esse efeito. 

Há alguns dias não me sinto hábil sequer para levantar e me medicar. Os comprimidos estão sobre a mesa e eu estou refém da minha cama. Trabalhamos, claro. O piloto automático ainda funciona dadas as obrigações da vida adulta. Quisera eu viver de piloto automático pelo resto da vida: comer o essencial, fazer o essencial, dormir o essencial. A vida por baixo é tão boa como a dos excessos. Méritos de uma vida só. Sorrisos não esquentam a gente nesse frio nem ficam de conchinha durante uma maratona de filmes duvidosos - o que amo, claramente. 

O interessante é, apesar dos pesares, que hoje consegui sentar e me dispor a escrever algo. Essa raridade merece atenção e um chá bem quentinho. Embora me sinta apática e solitária, me peguei hoje cantarolando um adiantado "November Rain" enquanto vislumbrava a chuva da manhã caindo insistente pelo jardim. Vivo por momentos assim - cinzas - e pela paz incompreendida que eles me proporcionam.

Neste último mês vivi experiências das quais não me orgulho, pois quase me deixei ser sugada em uma dependência além-mim. Claramente isso não mudou: continuo sendo aquela que grita em altos tons o pedido de liberdade à quem me ama, e ao mesmo tempo anuncio que "não quero a liberdade se estiver 'sozinha' pra voar". Maldito seja Esteban e suas letras pretenciosas que me conseguem ler a alma. Não quero a liberdade se estiver sozinha para voar. Passarinis voam em bando; se guiam. Se protegem... E eu, andorinha solitária, não me sinto capaz de fazer verão. Muito menos de pedir ajuda com essa tarefa.

Meu sofá de 2018 é espaçoso e não me pertence - o que me deixa mais deslocada. Talvez em 2019 eu consiga o meu, mas já sabemos que não trabalho mais com promessas. Elas não se cumprem e eu mesma não consigo me cumprir.

Respiro fundo. Um gole do chá morno me embaça os óculos enquanto me clareia a mente.

Às vezes me pergunto se em algum dia houve um ensaio para o cenário atual. Não falo sobre a sociedade, política ou conflitos religiosos. Não sustento sequer os próprios conflitos que me imploram por alguém ao mesmo tempo que tento ao máximo quebrar as correntes que, sem querer, me prendi aos pés. Como alguém pode ser tão inconsistente assim?

Me falta ar. Algo me diz que sem isso não dá para viver.

Meu sonho, admito, seria encontrar um desfecho para esse post, onde digo que isso já vai passar e como enxergo cores mais vivas no mundo à frente. Correndo o risco da decepção ao leitor anônimo, d o cinza do agora me envolve um pouco mais.
A gratidão do meu dia é ter conseguido escrever. Ainda que palavras tortas em linhas certas, escrevi. Escrevi e respirei fundo pela primeira vez nesse mês de outubro onde as coisas passam discretamente e eu, em um estado suspenso, simplesmente não as sinto mais.

O Citalopram, na mesa, engulo com o último gole de chá.

Talvez o ar me volte e, respirando, eu possa tentar escrever novamente. Não me iludo.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Sobre toda minha ausência injustificada.

Tenho escrito menos. E vivido um pouco mais.

A literatura de meus dias perdeu o caráter de microponto, por isso não me vejo mais apenas sentando e postando. Minha vida virou um romance que não mais se capitula em poucos parágrafos. Muitas vezes abandonei em branco o texto, pois olhava míope para dentro de mim e nada via senão o nebuloso vulto da ulceração que ainda gritava em vermelho. Precisava encontrar um caminho para a superfície, mas no fundo daquele poço eu encontrei um par de lentes.  Eu poderia dizer que fui acometida por uma abstinência de sensações às quais já estava acostumada. Ao invés disso, escolhi viver. Passei, então, a viver mais.

Durante esse último Verão, senti que não preciso mais contar aos meus netos que passei o tempo todo jogando dominó ou fazendo pentakills contra bots em Summoner’s Rift. No meio de toda essa (re)descoberta da vida, me veio então à mente a memória da “Síndrome dos 20 e poucos anos”. Não me recordo quando foi a primeira vez que tive contato com essa definição, porém até hoje me surpreendo com a veracidade por trás disso.  As amizades diminuem, o cansaço aumenta e um beijo faz o mundo gira bem mais rápido que a Pitty previa em “Equalize”. O mundo pede mais atitudes e menos definições. O mundo pede definições que só são alcançáveis mediante mais atitudes.

Hoje, cá estou no alto do meu terceiro andar onde não vejo mais o pôr-do-Sol nem o rio que eu aprendi a amar; hoje, bem no auge dos meus 24 anos, as costas doem um pouco mais, ainda me divirto com a mesma gratidão, preciso de um pouco mais de álcool para viver e cada vez mais me identifico com os tópicos dessa tal crise. Entretanto, algumas coisas começam a pesar mais, e olha que não me refiro às minhas próprias gordurinhas (!) e sim ao peso que atribuímos às pessoas e, principalmente, ao papel que estas ocupam em nossas vidas.

Aquela definição de “melhor amigo” que parecia tão importante nos cadernos de perguntas na escola hoje parece banal demais para ser tão levada em conta assim. Talvez seja eu que nunca sei verdadeiramente responder quem é meu melhor amigo.  Possuo poucos amigos, alguns colegas e incrivelmente um estádio inteiro de companhia para beber. Sério, poderíamos até criar uma torcida organizada do Flamengo e lotar 50% dos jogos, se alguns deles não tivessem mau gosto com futebol (sim Pedro, essa foi para você).

Em todo o caso, não são esses vãos acasos que acabam por definir isso. Não sei se estou velha demais ou se é normal pensar que não preciso encontrar ou conversar o dia inteiro com algumas pessoas para que estes sejam considerados melhores amigos. O importante é saber que eles estarão ali a meu lado. Certas coisas nunca são esquecidas e atitudes já sobrepõem toda e qualquer frequência.
 Sei que ando meio desligada, meio sumida, meio egoísta... Mas se tem algo que nunca deixarei de ser é sincera ao declarar meu amor por essas pessoas que por vezes dão o ar da graça ao vir dançar em minha vida. 

A vida ensina, a gente aprende. No final das contas, ao invés de me perder em devaneios eu deveria somente aproveitar e agradecer às pessoas que guardo debaixo das minhas asas de Passarini com todo o carinho e proteção ao poder afirmar que são meus. Meus companheiros, amigos, irmãos e acima de tudo, meus.  Alguns amigos vão apenas sumir; às vezes é preciso perder o convite anual de Jingle Bells Rock de todo o Natal, abrir mão de certas amizades e deixar que voem para outros ares no território de outras abelhas-rainhas.

Cansei de lutar contra mim mesma, pois já me cobrem o corpo feridas em diferentes fases de cicatrização. Aqui estou, pronta para me aplicar com algumas doses cavalares de vocês, se assim me permitirem. Eu já não quero mais viver sem essa morfina que batizei com o nome de cada um de vocês.


Voltei a viver. Viver a vida, viver a ilusão, viver a correria. Viver esse romance não capitulado é estar em apuros. Estou vivendo e não quero ser salva.

sábado, 25 de outubro de 2014

Sobre toda a maturidade dos meus sonhos.

Desde muito criança, uma das frases que eu mais escutava era “Nunca desista dos seus sonhos!”. E quando não esta, era alguma outra de igual significado.  A mensagem sempre foi clara e focada em uma palavra: fé. Fé em algo maior, fé em si próprio, fé no futuro, fé na humanidade. Fé!

Os anos se passaram e esse tipo de pensamento nunca me abandonou. Algumas - muitas! - vezes me dei mal pensando no melhor das pessoas, das situações e até de mim mesma;  nada mudou. E por mais presente que fosse  em minha vida, ninguém jamais me disse para nunca desistir dos meus sonhos. Talvez se estes fossem simples idealizações ou platônicos amores, eu aceitaria, mas não são! Tenho sonhos adolescentes que no decorrer da minha vida adulta foram se expandindo até se formarem realizáveis. Fáceis? Não, dificilmente algo bom pode ser definido como “fácil”. No hoje, meus sonhos chamam-se "metas".

Recentemente, pedaços de minha alma vêm sendo arrancados de forma proporcional às vezes em que ouvi me pedirem para abandonar meus sonhos. E até perde-lo, eu realmente nunca parei para perceber o quanto esse positivismo sempre me pertenceu. A gente realmente só dá valor a algo quando o perdemos, e sempre estamos correndo o risco de perder algumas coisas. Inclusive, se em algum dia eu já fui mais que uma escritora auto-idealizada, também perdi isso por aí.  É meio triste a forma efêmera que certas coisas adquirem antes mesmo de partirem.

Diante de tantas perdas, esse tipo de pensamento encrustrou em minha cabeça, de uma maneira que me fez relacionar essa triste epifania com tudo que a vida vem colocando em meu caminho. As canções de amor e atenção em excesso dedicadas ao garoto, o carinho de mãe, a cachaça com Coca-cola do final de semana, a roda de violão com os amigos; tudo isso é resultado de fases em que outrora as coisas pareciam mais corretas. E assim como um dia essa fase chegou, um dia ela precisa acabar. Me fez feliz por tempo suficiente para descobrir que tratava-se de uma missão sem propósito; um planeta gasoso sobre o qual eu não poderia pousar.

Felizes os ingênuos, os burros e os filhos-da-puta.
Infeliz de mim, que sou amaldiçoada com a doença dos anos, que só penso em pensar.

Ontem, entre cada novo gole da tão bem vinda cachaça comecei a perceber o peso da idade enquanto sentia a presença de cada vez mais pensamentos os quais eu não posso – ou não consigo – dar vazão. Sempre tive a facilidade de traduzí-los em parágrafos, mas esse artesanato leva tempo, é cansativo e, certas vezes, quando finalmente deglutimos um assunto, já somos atropelados pela urgência de uma vida que somos obrigados a viver. A vida passa fulminante enquanto escrevemos sentindo e avaliando o peso de cada palavra. Porém, escrever aqui foi o que me impediu de fechar os olhos para a luz. Esbravejar por escrito – mesmo com a consciência que alguém sequer lerá – é confortante, justamente quando não me serviam mais as opiniões sensatas.

Digo isso porque, afinal, a gente sempre sabe quando tá fazendo merda.

Na verdade, compactuo com a hipótese de que, se não exercermos controle firme sobre nossos pensamentos e atitudes, transformamo-nos em nada mais do que o lodo do lodo. Descobrir-se imperfeito, defeituoso e incapaz (e escrever sobre isso) é o que me impede de desmoronar. Essa obra inacabada que todos somos precisa de andaimes, estacas e apoios para se manter de pé. Família, amigos, músicas, drogas… usamos o que temos ao nosso alcance, embora saibamos que jamais estaremos prontos. Jamais.

Viver é perigoso. O mundo é veloz, cruel e cheio de arestas.
Abandonar seus sonhos não vai mudar sua realidade. Lutar por eles, sim.


“Milagres acontecem quando a gente vai à luta!”.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Sobre toda a minha inspiração e (falsa noção de) liberdade


O ano passou, eu quebrei a cara algumas muitas vezes e por fim tudo aparentemente se arranjou. Era “Nikki”: uma obsessão tão imensa que me erguia na mesma proporção que me afundava em delírios. Era “Nikki”. Era; e finalmente eu consigo respirar e tentar compreender e sentir o que é a duração de um dois, três [...] seis anos e suas mudanças.

Eu poderia dizer que fui acometida por uma abstinência de sensações às quais já estava acostumada. Tudo isso parece bastante irrelevante hoje; especialmente hoje.  O mundo quebrou meu coração de 10 formas diferentes até o dia 31 de Dezembro.  Não dá pra explicar, mas eu já sabia que isso aconteceria; era garantido. Isso e as loucuras de dentro de mim e de todo mundo. Mas adivinha? O dia seguinte  - hoje, 1º de Janeiro! -  é o meu dia preferido de novo. Eu penso no que todos fizeram comigo e me sinto uma garota muito sortuda. Uma mulher, porque tudo isso me fez crescer.

Meu plano inicial para o começo do ano era banal de tão clichê. O clichê do "re"; relembrar,  reamar, reapaixonar, recomeçar, reconstruir, remarcar... E se não der certo - adivinha? -, "re"!  Por mais que eu visse sentido nisso à primeira vista, algo me fez (re)pensar sobre isso hoje. Por que eu relembraria as coisas? Por que me reapaixonar, se não deu certo antes? Por que recomeçar ou reconstruir sobre os escombros se eu deveria procurar um novo terreno para isso? Eu vivi de re's por anos e anos e visivelmente nada disso funcionou. A vida ensina, a gente aprende. No entanto, isso não quer dizer que não devamos, às vezes, desobedecer as leis que nós mesmos criamos.

Percebi então, que só preciso de uma palavrinha com "in" e que essa é bem mais condizente que o "re", se pensarmos em novos começos  - de ano, de vida, de amor, de mim - : inovar. Acho que assim eu deveria viver. Assim eu posso me inspirar. O caminho segue errante e irregular, mas dessa vez os passos são só meus. Sim, livre; e eu diria que liberdade demais sufoca, mas hoje mesmo me ensinaram que não é liberdade quando você não tem opção. Mas será que eu tenho?

No entanto, essa mesma liberdade acaba me amarrando a uma intensa e incessante necessidade de ter antigas sensações, gozar de prazeres que antes me eram rotineiros. Quando menos percebo, já estou novamente atando o nó do meu barco em um cais. É novo; não gosto.

Cansei de lutar contra mim mesma, pois já me cobrem o corpo feridas em diferentes fases de cicatrização. Aqui estou, pronta para me enganar e querer me aplicar com mais algumas doses cavalares de você. Me lembro agora como é viver sem essa morfina que eu batizei com o teu nome, há alguns anos atrás. Como eu vivia assim...?

A dor é ondulante, minha inspiração também; a fonte é a mesma.

- Sousa kanashimi wo yasashisa ni - 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sobre todas as coisas que inflamam minha mente.

Eu já caí, de tanto olhar para o céu. O que me protegeu de espalhar a cabeça pelo meio fio da calçada foi o fato de eu sempre andar no meio da rua. E o meio - da rua, dos relacionamentos, da vida - é geralmente onde me perco. As pessoas que andam na minha direção por vezes não passam de barulhentas ou fantasmas que minha mente inimiga vive inventando para me pregar peças. Meu subconsciente conhece meus medos melhor que eu.

Eu já perdi o ar, de tanto respirar; de tanto pensar e tentar acompanhar minhas ínfimas sinapses. Sigo a maré da sinapses. Se a mente muda, eu mudo. Somente assim eu posso ser cem por cento sincera com aquela que mais estimo: eu. Egoísta? Pra caralho. Mas é normal que eu tente pensar em mim dessa forma sincera. A gente faz o nosso caminho, e é normal que ele seja estreito e sinuoso. Ninguém consegue andar em linha reta por muito tempo.

Eu já petrifiquei minhas pernas, de tanto me prender ao passado. Mas o passado é, de certa forma, insignificante. Sim, ele é o espelho de nossa história e conta muito sobre quem somos. Mas quem eu sou e quem eu ainda tenho perto de mim depende principalmente do que estou fazendo no presente. E o que estou fazendo mesmo? Nós temos o poder de mudar, e o que importa nesse momento é o futuro; uma página em branco. E há muito tempo eu não via página em branco força, redenção e amor. Assusta. Eu morro de  medo de chegar no futuro, mas ele sempre chega. 

_

Alguém me faz parar de apertar o F5. Alguém nada, TU.

_

Às vezes acho que me fizeram capaz de sentir demais. E emanar demais o que é sentido, inclusive quando não faz sentido. Isso assusta, afugenta, por chamar atenção demais. Meus pensamentos são como um farol que não consegue se esconder na praia deserta. Ele sempre estará lá, ao alcance dos seus olhos, te pedindo para naufragar em mim. Não há nada capaz de me apagar. Só me resta a dúvida de quando seus olhos se cansarão de toda essa minha luminosidade incômoda na sua cara.

Quase sempre eu penso que deveria parar de agir assim. 
E eu não paro. Me para.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sobre todas as minhas novas perspectivas.

Cada pessoa lida com os acontecimentos do seu jeito, mas mesmo que opostos, todos os nossos pensamentos e atitudes são como uma encomenda anônima que a gente faz pro destino. Antes mesmo dos dez anos, já aprendemos que as coisas não são tão simples assim. Não posso dizer que não gosto. Mas também não direi que tem sido simples. E o que é simples, aos vinte-e-tantos anos?

Certo dia olhei para os meus pés e vi que não havia mais âncoras presas aos meus tornozelos. Noutro dia eu estava em outro mar; logo eu, acostumada com a segurança da terra firme, percebi que ela não me atrai mais. A vida que eu imaginava sempre procurar é, justamente a de viver procurando. A vida de eternamente cavar fundo até encontrar, em peito alheio, um coração parecido com o meu. 

Nesses tempos confusos, eu poderia ser apenas um aeroporto.

Todos poderíamos. Que outro lugar, senão um aeroporto, condensa sob o mesmo teto a alegria do encontro e a tristeza da despedida? Vejo pedaços de mim por todos os lugares em que passei, em logradouros distantes e em cidades enormes recheadas de solidão. Recebo, também, de todo lugar, pedaços do mundo que, como ímãs, aplicam-se sobre a minha pele e lá ficam para a posteridade, exibidos por onde passo. Mas tem gente que tem medo de avião, e por medo da partida, há quem não deixe ninguém chegar. Entretanto, a gente só percebe o calor do abraço quando sente a dor de respirar o ar frio da solidão. 

Eu sou um aeroporto.

Chegadas e partidas são a única certeza na minha vida. Meus olhos estão virados ao futuro; focados na estrada que se prostra à minha frente e chorosos de um medo que me sufoca o peito. Tenho medo de nunca ser feliz. Encontro em mim, com igual facilidade, motivos para persistência ou para desistência. E continuar pra quê? Continuo com a força do que levo pra vida. O saldo positivo disso tudo é a quantidade de aviões que acolho em meus hangares. Pedaços de histórias que conto pra mim mesma todos os dias, enquanto ergo um tímido sorriso quase que instantâneo de realização.

E você, aeroporto em greve, tá esperando o quê, olhando pra cima?
(Avião não pousa em aeroporto fechado).


Eu preciso, você também. Todo mundo precisa de alguém.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sobre todas as coisas que me envelhecem


Celular piscou.

 Foi a terceira vez - ou décima - em menos de 10 minutos e isso finalmente começou a me irritar. Às vezes me pergunto onde está em mim aquela adolescente que pularia animada por mais uma notificação ou mensagem ou ligação recebida nesse aparelho nojento. Mas o problema não é o aparelho em si e sim as notificações. Em um android contendo Facebook, Whatsapp, Foursquare e Instagram, poderia vir tudo, mas o que realmente acaba vindo é uma mensagem da operadora me oferecendo algum promoção inviável. Descobri que existe uma nova forma de ter o coração partido e não curti isso. Esperar uma sms para alegrar seu dia e no lugar receber uma da operadora é semelhante ao fim do mundo. 

-

Celular piscou. 
Eu, desastrada, fui olhar e consegui jogá-lo longe ao ponto de abrir e sair a bateria. 
Ok.

-

O pior de tudo? Sou apegada!
Hoje no começo do dia não havia internet e nem sinal de celular aqui na cidade. À princípio não me importei pois ainda era cedo e não havia ninguém online/acordado que me interessasse. No passar das horas, comecei a ficar inquieta por estar já há muito tempo sem comunicação e imaginando que quando o sinal voltasse eu teria ali no celular alguma mensagem que me tirasse o fôlego e que ameaçasse mudar meu mundo - ou pelo menos que fosse algum amigo chamando para uma cerveja. 

O sinal voltou. Não havia mensagens. Não me importei.

Depois de algumas vezes revendo NANA, enfiei na minha cabeça que um aparelho tão pequeno pode sim influenciar a vida de duas pessoas. Com o tempo, percebi que a ausência ou excesso de interação via celular só pode ser totalmente determinante quando ambas as pessoas se prendem a algo tão banal assim. Continuo amando ser acordada com mensagens e ser lembrada durante o dia, mas não vou mais me apegar a isso. Quem realmente me quer, me tem.


Envelheci 10 anos ou mais nesse último mês. Analisei minha gasolina, descobri o que (não) me fazia feliz e no final das contas terminei como uma velha conhecida bem aqui no sofá dos meus pais ao som de André Matos na tv gigante da sala. O celular ficou todo esse tempo ali no chão, com a bateria jogada para o outro lado da sala e eu continuei aqui, apreciando minha música enquanto digitava. Talvez tenha engordado uns 10 kg mentalmente. Ou não. Embora eu morra de medo de mudanças, ainda quero descobrir se tudo isso vai valer à pena. Hello stranger!

-

Liguei o celular. Não havia mensagens. Fingi que não me importei.